“Bendito seja Deus, que abre os olhos, orienta
pecadores em seus caminhos, glorificado seja com o devido louvor! Que me
beneficiou piedosamente e com grande caridade, tirando-me da escuridão plena em
que estive imerso todos os dias de minha vida. Ocupei-me com o conhecimento
filosófico, examinando e investigando de acordo com o senso crítico, compilando
uma série de livros, numerosos como os grãos de areia de uma praia. Até que, no
fim de meus dias, confrontei-me com um Sábio, dos Sábios de Israel, e este me
demonstrou o braço forte da Torá, dada a eles como legado no Sinai. Este sábio
atraiu meu coração a ponto de ser possível demonstrá-los em construções
lógicas. E eu fui estúpido e ignorante não percebendo que a maioria dos
ensinamentos era superior à compreensão humana. Quando tomei conhecimento
disto, empenhei-me com toda minha força em refletir sobre a religião judaica. E
eis que ela está apoiada em bases sólidas e concretas, não como a sabedoria
filosófica vã. Portanto, meu querido aluno, Imperador Alexandre Magno, não se
engane com meus livros, tanto você como seus companheiros filósofos. Pois caso
pudesse agora recolher todas minhas publicações, hoje espalhadas por todos os
cantos do mundo, já as teria queimado com o propósito de não restar sequer um
exemplar e, sendo assim, desejo que ninguém mais se engane com elas. Sei que
serei castigado pelo Deus de Israel, pois pequei e fui a causa dos pecados de
outros. Sendo assim, meu filho Alexandre, comunico a ti e a toda humanidade que
grande parte dos Sábios, pensadores e filósofos, cujo conhecimento provém da
dedução lógica, são charlatões e mentirosos. Uma vez que meu azar engrandeceu e
meus livros se espalharam por todas as terras do Oriente, venho através desta
expressar, em sano juízo, que estes são impróprios à leitura e ao estudo, pois
a filosofia é enganadora e mentirosa. E estarei limpo perante Deus, porque
pequei sem saber. Coitados são os instruídos em minhas publicações, percorrendo
do caminho virtuoso ao calunioso. Saiba que, assim como este sábio demonstrou
sua grande inteligência, o rei Salomão também, através de seus provérbios,
conforme está escrito: ‘Guarda-te de uma mulher estranha’ e também: ‘Não desvie
seu coração do caminho’ e ‘Todos que vêm, a ela não retornarão’. Pobre dos
olhos que assim vêem, coitados dos ouvidos que assim prejudiciais e fúteis,
destrutivas e não proveitosas. Quanto ao que me dissera sobre minha fama entre
os povos devido às minhas publicações, saiba que preferiria ter uma parte nos
livros de Torá a ter nos livros filosóficos e escolheria a morte a fim de que
meus livros não fossem publicados. Pois os que se ocupam com Torá irão ao
encontro da luz e os que se ocupam com a filosofia irão ao encontro do breu. E
eu também serei castigado mais do que todos eles. Não lhe escrevi antes desta
data, pois, caso fique nervoso comigo e deseje fazer-me algum mal, logo que
esta carta chegar a ti, estarei morto, envolto num caixão de madeira. Para
Alexandre Magno, saudações de seu mestre, que parte para o Mundo Vindouro, ‘Aristóteles’”.
Aristóteles,
grande filósofo, conheceu um judeu chamado Shimon Hatsadik que o influenciou no pensamento judaico e, maravilhado,
reconheceu Deus. Ao fim de sua vida, pressentindo sua morte, escreveu a
Alexandre Magno, uma carta onde ele volta atrás com suas idéias e tenta alertar
seu mais célebre aluno. A veracidade desta carta deve-se a um livro baseado nos
ensinamentos da Torá encontrado no Cairo de sua autoria. Torá para quem não
sabe trata-se dos cinco
primeiros livros da Bíblia, de Gênesis até Deuteronômio, o Pentateuco (grego = cinco rolos).
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